Seu Sete da Lira: o Exu mais pop do Brasil

Ser brasileiro é, sem dúvidas, nascer sabendo quem são Exu e Pombagira. Desde as lojas de artigos religiosos espalhadas pelas cidades até o som dos atabaques correndo pelas ruas, a atmosfera própria dos Exus nos rodeia. Apesar disso tudo, ninguém estava preparado para o que Seu Sete da Lira aprontaria.

Formalmente, Seu sete era Exu Sete Encruzilhadas, mas o “apelido” seu Sete da Lira pegaria, pois era um Exu boêmio que bebia incontáveis garrafas de cachaça e que gostava de cantar e de compor canções. Com seu emblemático traje com uma lira bordada, Seu Sete era alegre, possuía poderes de cura incríveis e espalhou sua popularidade de tal maneira que milhares de pessoas iam em busca do seu auxílio. Entretanto, não foi por esses feitos que Seu Sete tomou o Brasil de assalto.

Não satisfeito em levar sua alegria e sua palavra para milhares de pessoas, Seu Sete, contrariando os desejos de sua médium, Cassilda de Assis, resolveu aceitar os convites que já vinham chegando há algum tempo e aparecer ao vivo na televisão, principalmente por conta de um programa de Silvio Santos, no qual ele havia destilado provocações ao Seu Sete. O ano era 1971 e, mais precisamente no dia 29 de agosto, Seu Sete entrou no popular programa de Flávio Cavalcanti, na TV Tupi, nos estúdios no bairro da Urca, no Rio de Janeiro. Dali, ele sairia direto para os estúdios da TV Globo, para participar do programa “A Hora da Buzina”, com o inigualável Chacrinha. E foi assim que Seu Sete entrou para a história. Porém, deixem-me contar com um pouco mais de detalhes o que aconteceu, de fato, naquele 29 de agosto.

Imaginem vocês: Seu Sete de cartola, capa, marafo e charuto nas mãos andando sorridente pelos corredores da televisão. Do lado de fora, uma multidão ensandecida tentando falar com o Exu milagreiro (dizem que mais de mil carros foram parar no bairro da Urca!). Pois bem, aconteceu. Quando Seu Sete entrou ao vivo no programa de Flávio Cavalcanti, ele tomou para si a telinha. Gargalhava, bebia e soprava fumaça em todo mundo. Era uma gira ao vivo, na casa das famílias do Brasil. Após se apresentar no dito programa, levando suas mensagens de amor e de fé, Seu Sete foi direto encontrar Chacrinha, “o velho guerreiro”.

Seu Sete não esperou ser convidado para entrar no programa do Chacrinha. Entrou assim que chegou, de supetão. Para marcar sua chegada com grande estilo, fez todas as dançarinas do programa desmaiarem jogando marafo nelas. Depois, foi fazer o mesmo com a plateia. Uma a uma, as pessoas iam caindo desmaiadas e Seu Sete gargalhava enquanto Chacrinha e todo os demais estavam atônitos. Contam as histórias que até mesmo em suas casas as pessoas desmaiavam pelas ações do Exu na TV.

A participação de Seu Sete na TV não passou despercebida. As famílias brasileiras ficaram escandalizadas. A censura federal ameaçou caçar a concessão das TVs. Seu Sete deixou de ser um fenômeno de nicho para se tornar uma personagem nacional e, com essa fama absurda, veio a onda de detratores que transformaria a vida de Cacilda de Assis em um inferno e que, finalmente, conseguiria ir minando a popularidade do Exu. Umbandistas e entidades de Umbanda começaram a atacar Seu Sete, alegando que ele não era representante legítimo da religião.

Seu Sete continuou trabalhando, mesmo com a popularidade em queda. Prometeu que, quando Cacilda de Assis se fosse, ele também iria – que não voltaria mais e que não baixaria em mais ninguém, pois sua missão havia sido cumprida. Seu Sete chegou, agitou o cenário e saiu de cena. As opiniões sobre ele variam muito, mas o que é indiscutível é que escreveu um capítulo curiosíssimo da história da espiritualidade brasileira.

Tata Tormenta

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